Quando nada mais resta

"Um pensamento me sacode. ร‰ a primeira vez na vida que experimento a verdade daquilo que tantos pensadores ressaltaram como a quintessรชncia da sabedoria, por tantos poetas cantada: a verdade de que o amor รฉ, de certa forma, o bem รบltimo e supremo que pode ser alcanรงado pela existรชncia humana. Compreendo agora o sentido das coisas รบltimas e extremas que podem ser expressas em pensamento, poesia — e em fรฉ humana: a redenรงรฃo pelo amor e no amor! Passo a compreender que a pessoa, mesmo que nada mais lhe reste neste mundo, pode tornar-se bem-aventurada —ainda que somente por alguns momentos — entregando-se interiormente ร  imagem da pessoa amada. Na pior situaรงรฃo exterior que se possa imaginar, numa situaรงรฃo em que a pessoa nรฃo pode realizar-se atravรฉs de alguma conquista, numa situaรงรฃo em que sua conquista pode consistir unicamente num sofrimento reto, num sofrimento de cabeรงa erguida, nesta situaรงรฃo a pessoa pode realizar-se na contemplaรงรฃo amorosa da imagem espiritual que ela porta dentro de si da pessoa amada. Pela primeira vez na vida entendo o que quer dizer: os anjos sรฃo bem-aventurados na perpรฉtua contemplaรงรฃo, em amor, de uma glรณria infinita..."

(Viktor E. Frankl, Em busca de sentido)